Num mundo em que qualquer coisa pode ser criada em segundos com ajuda da inteligência artificial, o que realmente diferencia uma marca? Não é só velocidade. Nem só bom gosto. É presença.
Presença é mais do que estar. É ser sentido. É criar impacto real. É ser lembrado, não só visto. É fazer parte da vida das pessoas de um jeito que ressoa, que toca, que fica.
Presença é ser soma na vida das pessoas. É criar algo que vale a pena, que inspira, que transforma. E, mais do que nunca, isso virou nossa maior moeda.
Em minhas viagens pelo Brasil, conversando com profissionais do varejo, executivos e empresários, uma pergunta aparece sempre com força: “Como seguir relevante com tanta mudança acontecendo ao mesmo tempo?”
A resposta, para mim, é: movimento.
Estamos num ponto de virada. A economia instável, o consumo com altos e baixos, a avalanche de novas tecnologias. Dá medo? Sim. Mas também abre uma janela rara de reinvenção.
Não dá para desperdiçar esse momento. É a hora de criar e ocupar espaços.
E o espaço mais valioso que podemos ocupar hoje não é o digital, o físico ou o metaverso. É o ponto de vida.
Ponto de vida é quando a marca deixa de ser só uma loja, um canal ou uma vitrine e vira parte da história de alguém. É quando o negócio toca o cotidiano de forma real, relevante e positiva. É quando ele soma, faz sentido, vira memória, cria laço.
E pra ocupar esse ponto de vida, precisamos entender quem já vive no ritmo do novo: a Geração Z.
Essa geração é puro paradoxo. Nativos digitais, rápidos, hiperconectados. Mas também são conscientes, atentos, cheios de intenção. Eles querem velocidade, mas não abrem mão de sentido.
Parece contraditório? É aí que está o ponto. Eles são os dois ao mesmo tempo.
Os números, apresentados pela Mary Portas, mostram isso:
76% querem comprar o que querem, na hora que querem. Mas 95% não se consideram impulsivos. 58% tratam o consumo como entretenimento. 42% como uma experiência social.
Eles são caçadores e coletores modernos. Às vezes querem agilidade e eficiência. Outras vezes querem pertencimento, significado, troca.
🔄 Às vezes é Me-Commerce, rápido, prático, centrado no “eu quero agora”. 🔄 Outras vezes é We-Commerce , coletivo, com significado, voltado ao “nós construímos juntos”.
Essa tensão entre o We e o Me apareceu com força no Cannes Lions deste ano. Richard Edelman, presidente da Edelman, falou sobre a mudança que estamos vivendo: das marcas que falam para o coletivo (We) para aquelas que se voltam mais para o indivíduo (Me). É o reflexo de um mundo onde cada pessoa busca mais autonomia, mais cuidado com o próprio universo.
Mas eu estou mais com a Mary Portas: mesmo com o Me ganhando força, o We continua sendo essencial. Não é uma escolha entre um ou outro. Os dois existem dentro de cada pessoa e aparecem de formas diferentes, dependendo do momento de vida, do contexto e até do humor do dia.
Tem hora que queremos algo só nosso, rápido, direto, sem interferência (Me-Commerce). Tem hora que queremos pertencer, cocriar, fazer parte de algo maior (We-Commerce).
A potência está em entender isso e criar espaços onde os dois possam conviver com fluidez.
▶️ Richard Edelman trouxe outra provocação importante: As marcas passaram anos tentando ser porta-vozes do coletivo, diversidade, meio ambiente, igualdade, política.
Mas hoje, num cenário de desconfiança, ansiedade e polarização, ele diz:
“As pessoas não querem mais que as marcas assumam o lugar do governo ou da imprensa. Querem que elas ofereçam segurança, informação e esperança real.”
Em vez de levantar grandes bandeiras, Edelman propõe que as marcas:
- Reforcem segurança emocional e social.
- Atuem com precisão local, nos territórios e nas jornadas reais das pessoas.
- Falem com o indivíduo, com escuta, verdade e utilidade.
Isso não é ser egoísta. É ser útil, próximo, confiável. O propósito vira acolhimento. Vira ponto de apoio. Vira presença que realmente faz sentido.
Agora é hora de servir também ao coletor.
Por muito tempo, o varejo focou só no caçador: velocidade, facilidade, eficiência. Mas isso hoje é só o básico.
Servir ao coletor significa criar experiências com alma. Que toquem, inspirem, tragam gente pra perto e virem memória boa. É ser soma na vida das pessoas com seus negócios, produtos e serviços.
Porque varejo não é só escolher produtos, é gerar presença. E presença que soma, permanece.
Tecnologia? Sim. Mas como ponte, não como parede. A inteligência artificial deve servir à conexão, ao afeto, à troca real.
É aí que entra o WE-Commerce: um modelo onde sucesso não é só transação, é transformação, onde medimos impacto, laços, comunidade.
E no ME-Commerce, honramos a autonomia, a conveniência, a escolha consciente do indivíduo.
Os dois coexistem. E o varejo precisa navegar entre eles com leveza e inteligência.
Presença não é sobre estar em todos os lugares. É sobre ser inesquecível onde importa.
Quer crescer? Crie vínculos. Quer se destacar? Crie experiências. Quer ser relevante? Esteja inteiro. Seja soma. Vire ponto de vida.
Sim, o cenário é desafiador. Mas a energia criativa está aí, viva, pulsando, pronta pra ser canalizada.
Presença é a nova moeda. E quem souber usá-la com verdade, lidera o próximo capítulo.
Movimento gera movimento.
Fred Alecrim